Falar em perdão em um ambiente tão competitivo e frio como o profissional pode parecer algo estranho.
A tecnologia vem provocando mudanças significativas na vida profissional. Até recentemente percebíamos a diferença entre horário de trabalho e horário de lazer, o que não acontece atualmente.
Com a utilização cada vez mais frequente do Home Office e a possibilidade de levar “sua mesa de trabalho” em um smartphone, fazem com que a vida vá se adaptando rapidamente. O mundo pessoal e profissional vai se mesclando com rapidez. Este novo modelo faz com que os relacionamentos profissionais também precisam se alterar, não podendo permanecer de forma anacrônica.
Já falei sobre o Perdão na quarentena, veja aqui
Todos temos momentos em que nosso emocional parece estar fora de sintonia. As vezes temos comportamentos que, passado algum tempo, nos faz duvidar se fomos nós mesmos que agimos daquela maneira. O mesmo acontece com os outros em relação a nós.
Os indivíduos, muitas vezes, não agem com ponderação e cordialidade. Fazem com que todos deixemos rastros de mal-entendidos, ofensas ou mesmo quebra de laços de relacionamentos.
A cada dia que passa, estes laços partidos parecem ficar mais difíceis de serem atados, a menos que uma das partes pratique o perdão. Não aquele perdão piegas, mas sim o realizado de forma consciente.
No modelo atual da vida profissional, não convém a ninguém carregar o fardo de situações emocionais não resolvidas e que tenham distanciado pessoas, pois todos dependemos uns dos outros.
Não só a vida pessoal, mas também a profissional deve ser sustentada pelo respeito e solidariedade da essência de ubuntu, a filosofia africana que trata da importância das alianças e relacionamentos das pessoas, umas com as outras.
O mundo não é uma ilha – “Eu sou porque nós somos” – é a essência do ubuntu.
Para que isto seja real, é providencial praticar o perdão e aqui quero deixar quatro dicas de como fazê-lo.
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Arrependimento
Normalmente passado um tempo em que tivemos um comportamento puramente emocional e sem o necessário respaldo racional, sentimos que nosso comportamento não esteve alinhado com nossos valores. Em outras situações, deixamos de lado a Inteligência Emocional e fazemos com que o tempo de resposta para uma ação seja curtíssimo, deixando estragos pelo caminho.
Na maioria das vezes, quando analisamos a situação passada, percebemos que agimos de “bate pronto” e no momento nos rotulamos como um indivíduo com “pavio curto”. Isto nos conforta momentaneamente, mas não resiste a uma reflexão mais acurada.
É neste momento que deve ocorrer o arrependimento, isto é, verificar o ocorrido sem paixão e emoção, para poder observar ambos os lados da situação.
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Confissão
Após passada a primeira fase, é importante que procuremos a outra parte envolvida para uma conversa franca e objetiva. Não cabe aqui, apontar erros ou culpas, mas mostrar que entendemos a situação, que percebemos que também erramos e que esta situação desagradável não precisa persistir.
Pode ser que a outra parte nunca entenderá o seu gesto, isto faz parte das características das pessoas, mas acredite, esta ação fará muito bem a você e à sua vida futura. Talvez a outra parte necessite de um tempo para elaborar toda a situação, dê a ela este tempo, mas você certamente perceberá que um grande peso foi tirado de suas costas.
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Perdão
Após a confissão, perdoe a pessoa. Isto não implica que ela se tornará sua melhor amiga, apenas não deixe que aquele sentimento de rixa o atrapalhe e controle os seus atos.
Ninguém tem o direito de controlar a nossa vida ou nossas ações. Enquanto não perdoamos o outro, estamos dando poder a ele que tenha controle sobre nossas emoções sempre que lembrarmos da situação ocorrida. Você perderá a sua paz quando se lembrar do que aconteceu, o que representa que a outra parte ou o acontecimento ainda tem interferência em seu dia a dia, o que é desagradável.
Somente com o ato de perdão, com o entendimento (ao menos de nossa parte) de todo o processo, nos livraremos do peso e teremos novamente em nossas mãos o controle de nossa vida.
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Transformação
Aqui são esperadas duas transformações.
A primeira em relação ao fato ocorrido, nosso entendimento deve ter sido suficiente para que aquilo não mais nos aborreça. Quando o fato não mais nos magoar, deixaremos de ter lembranças negativas. Passaremos a nos valorizar pela nossa capacidade em tirar pedras do caminho.
A segunda transformação esperada está relacionada ao nosso futuro. Teremos um case que proporciona um entendimento suficiente para que novas situações semelhantes não ocorram novamente.
Neste momento deixo uma reflexão para você:
Qual o motivo que nos faz carregar uma mágoa, um peso sobre as costas por um longo período sem que tenhamos a vontade política de nos livrarmos dela?
Será o ego? Será uma falsa noção de superioridade ou, será que não entendemos ainda que “eu sou porque nós somos”?
Talvez, todas as respostas estejam corretas. O que você pensa sobre isso?