FOCO é a capacidade de mirar apenas um alvo em um universo atordoante por estímulos.
Quando tomei a iniciativa de escrever este artigo lembrei-me de um passado recente, quando separaria o material de consulta para iniciar o meu trabalho, mas em segundos estaria consultando minha caixa de e-mails, passaria por uma rede social e talvez observasse alguns saguis que costumam fazer malabarismos em uma árvore em frente ao meu escritório, ou até mesmo pensaria em um compromisso futuro ou em uma tarefa ainda não concluída.
Isto não acontece somente com você ou comigo. Perder o FOCO naquilo que estamos fazendo é algo muito comum, mas não podemos ignorar que quanto mais o FOCO é perdido, pior nos saímos em nossas atividades.
Um dos grandes raptores de nosso FOCO são os estímulos emocionais, que podem ser: alguma situação ainda não resolvida, um relacionamento tumultuado ou mesmo a insatisfação e incertezas em nossas atividades profissionais. Isto quer dizer que, quem tem melhor FOCO é relativamente imune a turbulências emocionais, tem mais capacidade de manter o controle durante crises e de se manter no prumo, mesmo diante das agitações da vida, consequentemente apresenta maior produtividade.
Tentar focar em alguma coisa e ignorar o resto é uma espécie de conflito para o cérebro e precisamos aprender a lidar com esta situação. Pessoas sem foco estão continuamente em ação, com os olhos passeando pelo ambiente sem se fixar em nada. Aparentemente estamos diante de um paradoxo: nossa mente perde o foco buscando um conforto momentâneo, mas simultaneamente isto causa uma infelicidade, mesmo que inconsciente.
O fato de perder o FOCO naquilo que fazemos além de diminuir a produtividade nos cansa mentalmente fazendo com que ao final do dia parece que realizamos muito mais tarefas do que realmente fizemos, sem contar a sensação de insatisfação pessoal. Por mais que nos esforcemos temos a sensação que andamos em círculos.
Certa vez, em um almoço de final de semana, conversava com um amigo, que assim como eu atua como Coach, sobre esta sensação de cansaço e a falta de FOCO na realização das atividades quando ele me disse que isto tinha uma solução relativamente simples, que bastavam alguns exercícios e bastante comprometimento em pratica-los.
Estávamos tomando um aperitivo e ele separou e me deu uma uva passa de um prato com nozes e castanhas. Eu a coloquei na boca e antes que meu amigo dissesse algo eu já a havia engulido.
Ele deu-me outra e pediu que a saboreasse lentamente, prestando atenção total aquele momento, as sensações que causava, a explosão de sabores ao morde-la e até os sons que isto ocasionava. Deu-me outra e pediu que repetisse o processo, desta vez sozinho, sem comandos ou sugestões.
Confesso que aquela uva passa tinha um sabor diferente, tinha riqueza de detalhes e eu havia sentido cada um deles. Eu havia colocado toda a minha atenção naquela fruta.
A seguir pediu que, mesmo sentado como estava, sem fechar os olhos, eu observasse o ar que entrava e saia pelas minhas narinas, apenas nisso: o ar que entrava e saia pelas narinas e em mais nada. Orientou-me que se minha mente divagasse e lembrasse de alguma coisa eu deveria, sem julgamentos, trazer a atenção novamente para o ar que entrava e saia pelas narinas.
Esta prática de apenas alguns minutos fez-me sentir descansado e mais atento às coisas ao meu redor.
Sem que eu percebesse, meu amigo estava iniciando um treinamento de atenção plena, que resulta em FOCO total nas atividades que fazemos, prática que uso até hoje, comigo mesmo e sob a forma de treinamento ou em programas de coaching.
Desde este dia incluí em minha agenda um período para praticar este e outros exercícios, duas vezes ao dia, pela manhã e a noite, não mais que 20 minutos em cada período. Os resultados me surpreendem a cada dia, mesmo tendo decorrido alguns anos.
Esta prática ajudou-me a controlar o estresse e entender que hora de dormir é para dormir e horário de trabalho é para trabalhar. Não o inverso.