Cleyson Dellcorso

Um líder é um negociante de esperança

Ele foi chamado de “o maior líder que jamais existiu nesta terra de Deus, sem exceção”. Mesmo que o maior grupo que liderou foi de apenas vinte e sete pessoas, além de ter deixado de atingir quase todos os objetivos a que se propôs, em situações inimagináveis ele foi muito bem sucedido.

Shackleton é um grande modelo de liderança e, sem nenhuma dúvida, um mestre na arte de comandar em situações de crise e a frase de Napoleão que dá título a este artigo expressa bem esta afirmação.

Para Shackleton, as pessoas vinham em primeiro lugar.

Shackleton e o Endurance
Shackleton e o Endurance

Aqui neste espaço  vamos analisar durante sete semanas o comportamento de Sir Ernest Shackleton no comando de suas equipes, suas aventuras e como alguns modelos adotados por ele podem ainda hoje, após um século, serem utilizados em processos de Coaching de Liderança.

Shackleton enfrentou muitos problemas semelhantes aos que os gestores encontram atualmente: reunir um grupo diversificado para atingir um objetivo comum; lidar com os que têm comportamento negativo; animar os preocupados; evitar que os descontentes envenenem o ambiente; combater o tedio e o cansaço, trazer ordem a um ambiente caótico e principalmente alcançar metas com recursos limitados.

“Adoro uma luta, mas quando as coisas são fáceis, eu detesto”, esta frase em uma carta à sua esposa demonstra o verdadeiro espirito de Shackleton.

Aos quarenta anos de idade, Shackleton partiu, em 1914 com uma equipe de vinte e sete pessoas formada por cientistas e pessoal de navegação, em uma viagem independente para fazer o que considerava a última grande expedição que restava ser feita na Terra: a travessia a pé dos três mil quilômetros do continente antártico, enfrentando temperaturas de mais de 50°C negativos.

Já na formação da equipe, ainda na Europa, Shackleton começou a colocar a sua marca pessoal: priorizou o aspecto comportamental em detrimento das competências técnicas. O critério que utilizou para a vaga de médico de bordo foi que o escolhido “sabia tocar banjo e tinha um senso de humor bastante apurado”.

O navio da Expedição, o Endurance, deixou a Europa de Agosto de 1914, seguindo para Buenos Aires e dali para a Ilha Georgia do Sul e finalmente o círculo antártico, onde singrou mil e seiscentos quilômetros em um mar coberto de crostas de gelo. A apenas um dia de viagem de seu destino, o navio de madeira ficou preso “como uma amêndoa em uma barra de chocolate” no gelo polar do mar de Weddell.

Com a embarcação presa no gelo, os homens ficaram isolados em uma banquisa distante mais de dois mil quilômetros da civilização, sem que pudessem se comunicar com outros navios ou expedições. Ninguém poderia saber se estavam vivos ou mortos.

Durante dez meses o banco de gelo aprisionou o navio arrastando-o perigosamente em direção norte, para a seguir ser esmagado pelo gelo, deixando os vinte e sete homens acampados, sem comunicação com o mundo e com apenas três pequenos barcos salva-vidas, insuficientes para que transportassem a todos não só pelo tamanho, mas também pela fragilidade para enfrentar o mar aberto.

Após quase um ano de incertezas, o gelo começou a derreter e a única saída foi tentar chegar a uma pequena ilha, distante das rotas utilizadas pelos navios, mas na pior das hipóteses, terra firme. Com este espirito e após intensa batalha contra os ventos e tempestades conseguiram chegar na Ilha Elephant quando descobriram que era apenas uma rocha fétida, coberta de esterco das aves marinhas e que era assolada diariamente por tempestades.

Como não poderiam sobreviver naquele local e os botes salva-vidas não serviam para que todos buscassem outras paragens, Shackleton escolheu cinco dos vinte e seis homens e embarcou em uma nova aventura: alcançar as Ilha Geórgia do Sul onde existia uma estação baleeira. Vinte e um dos homens confiaram no “Chefe” e se sujeitaram em aguardar o socorro que tinham certeza que ele traria.

Shackleton conseguiu seu objetivo, retornou à ilha Elephant para resgatar todo o resto de sua equipe e após dois anos de dados como mortos, retornaram à Europa, sãos e salvos.

Por si só, a história desta expedição é apaixonante, mas o que chama a nossa atenção é que o moral da equipe durante todo este tempo esteve em alta. Os diários de bordo não relatam desespero ou desanimo, mas alegria e esperança. Após mais de um ano perdido, um dos tripulantes escreve em seu diário sobre a sua ansiedade, não com o possível socorro, mas pela possibilidade do primeiro lugar no festival de canto e dança que ocorreria em alguns dias entre os membros da tripulação.

Foram quase dois anos de lutas contra a natureza, a solidão, a fome e as possíveis doenças, mas não se teve notícias de conflitos ou motins, de desavenças ou disputa por um pedaço de carne de foca. Durante todo este tempo a presença amiga e servidora de Shackleton esteve presente e sua influência era tão grande que após o retorno à Europa, uma nova expedição foi marcada com o mesmo objetivo, e todos, sem exceção se inscreveram para fazer parte do grupo desde que Shackleton fosse o Comandante.

É o comportamento de Shackleton e a sua forma de conduzir equipes que veremos nas próximas quartas feiras, sempre fazendo uma relação com as possíveis abordagens em um processo de Coaching de Liderança.

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